RESUMO
Este trabalho vem discutir a importância do lúdico
nas séries iniciais, uma vez que os jogos e brincadeiras são excelentes
instrumentos de mediação entre o prazer e a aprendizagem, já que o lúdico é
eminentemente cultural. Analisa também a dificuldade dos professores das séries
iniciais do ensino fundamental em utilizarem o desenvolvimento lúdico da
criança nas atividades das experiências pedagógicas. Os professores afirmam que
lhes faltam o conhecimento teórico para apoiar sua prática lúdica no cotidiano
escolar. Essa postura exige mudanças nas atitudes pedagógicas, pois é
fundamental trabalhar o lúdico na educação visando à formação de indivíduos
capazes de cooperar, liderar, de viver em grupo e participarem ativamente do
seu processo de aprendizagem. Os professores não utilizam as atividades lúdicas
no processo ensino-aprendizagem, muitas vezes, alegando que geram distrações e
consequentemente indisciplina.
Palavras chaves: Lúdico, Brincar, Brincadeira, Aprendizagem,
Professor.
INTRODUÇÃO
Hoje o desafio de prender a atenção do aluno, que
vive rodeado pela mídia e uma variedade de recursos tecnológicos, sem perder o
foco que é a aprendizagem, exige do professor uma profunda reflexão sobre sua
prática. Esse ofício sempre foi muito complexo, mas atualmente essa
complexidade parece maior, pois além de trabalhar com alguns saberes, como no
passado, tem que conviver com os avanços tecnológicos e a complexidade social
atual. Vive-se um contexto onde o aluno, inserido numa sala de aula com quatro
paredes, quadro, giz, carteiras dispostas uma atrás da outra, não aceita mais
aquela aula em que o professor fala e ele escuta.
Esse professor, que hoje está na sala de aula, foi
formado numa escola bancária que não permitiu questionar, criar, fazer,
transformar. Ele é resultado de um processo educativo que ensinou o aluno a
adaptar-se e acomodar-se, os conceitos lhe foram apresentados como verdades
prontas, únicas e imutáveis, sua função era memorizar, imitar, plagiar. Não
teve oportunidades de ter novas ideias, de fazer diferente, para entrar na sala
de aula teve que se despir de suas experiências vividas, pois não foram
concebidas como um saber significativo. Sempre atuou como espectador recebendo
e aceitando conhecimento, sem jamais participar da sua construção, sem poder
questionar ou argumentar. Sua visão foi fragmentada, sua leitura crítica abafada,
sua individualidade negada, sua imaginação e criatividade tolhidas, seu
conhecimento padronizado e estático.
Esse profissional, que é produto de uma educação
dominadora, muitas vezes acredita que está pronto, acabado, que domina muito
bem os conteúdos necessários para dar suas aulas com sucesso, sem perceber que
o foco não é o conteúdo, mas o aluno. Não tem plena consciência que dá aos
alunos respostas prontas, sem problematizar o conteúdo, sem criar situações que
promovam a reflexão, sem permitir uma troca entre os colegas e o próprio
professor. Não permite ao aluno interagir, colaborar, dirigir suas ações e sair
da posição de espectador assumindo o papel de protagonista do seu processo de
construção do conhecimento.
Paulo Freire faz uma crítica a essa educação
dominadora que é contrária ao diálogo afirmando que nela:
O educador é o que educa; os educandos, os que são
educados; o educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem; o educador é
o que pensa; os educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra; os
educandos, os que a escutam docilmente; o educador é o que disciplina; os
educandos, os disciplinados; o educador é o que opta e prescreve sua opção; os
educandos os que seguem a prescrição; o educador é o que atua; os educandos, os
que têm a ilusão de que atuam; o educador escolhe o conteúdo programático; os
educandos se acomodam a ele; o educador identifica a autoridade do saber com
sua autoridade funcional, que opõe antagonicamente à liberdade dos educandos;
estes devem adaptar-se às determinações daquele; o educador, finalmente, é o
sujeito do processo; os educandos, meros objetos. (Freire, 1983, p.68).
Vemos então que a escola e a educação são burladas
nesse contexto de dominação, pois a escola visa à formação cidadã do sujeito
fazendo o capaz de criticar, reivindicar, comprometer-se, participar e a educação
é um processo contínuo que envolve o desenvolvimento integral do ser humano. O
que se observa é que o professor é o profissional constituído nesse sistema
repressor e autoritário e muitas vezes é usado para garantir os interesses e
objetivos desse mesmo sistema, causando-lhe a sensação de impotência diante da
confusão gerada para garantir a ideologia dominante. Em meio a toda essa
turbulência ainda tem que enfrentar o desinteresse e indisciplina dos alunos em
sala de aula. Apesar de conhecer a importância da ludicidade como recurso
metodológico insiste em ignorá-la como ferramenta pedagógica, mas é comprovado
que o lúdico deve ser usado como forma de transformação e libertação, sugerindo
aqui sua inclusão na formação de professores.
O lúdico promove um estado de inteireza, de
plenitude naquilo que se faz com prazer e pode estar presente em
diferentes situações da vida. Segundo Feijó (1992 p. 61) “O lúdico é uma
necessidade básica da personalidade, do corpo e da mente, faz parte das
atividades essenciais da dinâmica humana”. Para aperfeiçoar sua prática o
professor precisa descobrir e trabalhar o lúdico na sua história, resgatando os
momentos lúdicos vividos em sua trajetória de vida. É muito difícil trabalhar
com o lúdico especialmente para os que foram formados por uma escola que não
comportou esse modelo. Por isso se ouve falar e se reconhece a importância do
lúdico em sala de aula, mas pouco se faz, exatamente porque não é simples
romper com experiências vividas ao longo de toda uma trajetória de vida e
acadêmica. Viver a ludicidade em sala de aula, para esse professor, é conviver
com o incerto, com o improvável, é deixar de ser protagonista para atuar com o
grupo. Para quem não foi estimulado a viver momentos de inteireza e encontro
consigo mesmo, a trabalhar a espontaneidade, a criatividade, a imaginação e a
emoção se sente inseguro e sem direção.
A ludicidade precisa ser vista como algo
imprescindível à necessidade do ser humano que facilita os processos de
socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento. Apesar
do lúdico ainda não fazer parte do currículo dos cursos de formação de
professores tem se afirmado ser a ludicidade a alavanca da educação para o
terceiro milênio. A formação lúdica deverá proporcionar aos futuros professores
vivências lúdicas despertando a valorização da criatividade, sensibilidade,
afetividade tornando a prática pedagógica prazerosa e dinamizadora. Se o
professor na sua formação não foi sensibilizado a aprender com prazer, sua
curiosidade não foi despertada pelo conhecimento, não lhe foi apresentado
atividades dinâmicas e desafiadoras como poderá fazê-lo em sua prática
pedagógica aquilo que não experimentou? A este respeito diz Santin (1994 p. 27)
“O homem da ciência e da técnica perdeu a felicidade e a alegria de viver,
perdeu a capacidade de brincar, perdeu a fertilidade da fantasia e da
imaginação guiadas pelo impulso lúdico”.
Com uma formação lúdica o professor terá
oportunidade de se conhecer, de saber quais são suas
potencialidades, limitações, desenvolverá seu senso crítico, terá atitude de
pesquisador. Por isso a necessidade de formar professores capazes de
compreender os benefícios da ludicidade na sua formação pessoal e
profissional considerando que não é uma atividade complementar as outras, mas
sim uma atividade que auxilia na construção da identidade e da personalidade.
Com a ludicidade se aprende a lidar e equilibrar as emoções, a criar um
ambiente prazeroso estimulando a aprendizagem. Segundo Santo Agostinho (apud
NEVES 2007) “O lúdico é eminentemente educativo no sentido em que constitui a
força impulsora de nossa curiosidade a respeito do mundo e da vida, o principio
de toda descoberta e toda criação”.
O professor deve se permitir viver o lúdico e
buscar conhecimento teórico para através de experiências lúdicas obter
informações sobre o brincar espontâneo e orientado.
BRINCAR, BRINQUEDO, JOGO
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